Adeus Ano Velho
Alguém me disse certa vez que você deveria passar o primeiro dia do ano fazendo algo que você deseja fazer o ano inteiro. Não lembro quem foi e nem quando me disseram isso. Se bobear foi algo que escutei em alguma televisão nervosa sintonizada no programa da Sônia Abrão.
Mas eis que 2023 começou e não consegui parar de pensar nisso. Acho que desde 2015-2016 minha rotina foi a mesma: ler notícias e me (pre)ocupar em torno dos infelizes rumos políticos do nosso planeta cruel. Em determinado momento eu decidi que precisava escrever sobre política e sobre o espetáculo demente que se desenrolava diante de nós: Brexit, Donald Trump, Jair Bolsonaro, a ascenção de um caldo fétido de extrema direita. Tenho a impressão que trabalhei e vivi nas horas vagas, tomando uma raiva incontrolável e um senso de urgência.
Acompanhar o ritmo frenético das ameaças da neofascistas, a costumeira adulação produzida pelos vícios do jornalismo doisladista e a degradação em tempo real da vida pública não é a mais saudável das atividades. Tive alguma sorte e boas companhias, mas o preço a pagar não foi pequeno. Olhando para o balanço desses últimos anos é fácil concluir que perdi um bocado: mais do que deveria e menos do que poderia.
Mas voltemos à sabedoria de botequim que abriu esse texto malfeito. Eu queria mesmo começar esse ano fazendo algo que eu queria fazer o ano inteiro e esse algo é escrever. Houve um tempo no qual a urgência da escrita não estava associada ao último rompante de algum bostinha da família Bolsonaro, ou ao imediatismo frenético das notícias - ou dos trends - do dia. Às vezes eu queria voltar a esse tempo bom mas todos sabemos que ele não volta nunca mais.
Nesse momento a comunicação política, na internet e fora dela, vai ser tão ou mais importante quanto foi nos últimos anos. E, felizmente, tem muito mais gente boa fazendo isso agora.
Por hoje é só. Um feliz ano novo para nós! .