Uma coisa bastante clara quando se olha para o bolsonarismo e os malucos de porta de quartel é que eles são mais velhos que média da população - e MUITO mais velhos que a média dos integrantes de movimentos de esquerda.
Em 2020 eu observei um fenômeno peculiar: perfis que importavam teorias da conspiração da gringa (tipo o qAnon) pegando conteúdo do 8chan e do /pol, traduzindo e postando em redes sociais abertas. Como sempre passavam o chapéu e aparentemente conseguiam muito dinheiro dos seguidores achei pertinente chamá-los de "gigolôs de boomer".
Dava pra perceber pelas interações em grupos fechados ou redes abertas que a maioria das pessoas deslumbradas pelas "verdades decifradas" por esses perfis eram gente da terceira idade, aposentados. Li essa matéria escrita pela Luciana Bugni toda pensando nisso. Como muitos leitores eu também passei aperto pra tentar explicar pra parente que "tratamento precoce" com remédio de malária e vermífugo (ou vitaminas) não ia tornar ninguém imune à COVID. Consegui e assisti amigos que não tiveram a mesma sorte e acabaram enterrando os pais.
Esse momento, de choque e de mortes da COVID foi um caminho de escape para muitos parentes próximos que estavam enredados nessa histeria coletiva que a direita brasileira transformou em arma de guerra. Quem ficou, ficou porque achava que ia ganhar algo com isso. O que esse artigo da Luciana Bugni descreve é praticamente um aliciamento de idosos. Parece o que a gente vê naqueles relatos de quem foi refém de seitas/cultos como a NXIVM ou o Synanon: pessoas vulneráveis em busca de comunidade que acabam abusadas por gente mais poderosa.
E não falo isso como qualquer tentativa de tentar "passar pano" ou dizer que essas pessoas não são responsáveis pelos seus atos. Mas é bem importante notar como o bolsonarismo militante é uma máquina de uso e abuso de idoso: teve quem levasse a avó pra rua no AUGE da pandemia.
Esse fenômeno da radicalização dos mais idosos tem muita coisa a ver com o impacto da internet sobre uma geração que não é necessariamente “alfabetizada” para lidar com o bombardeio informacional das redes. Todo mudo está vulnerável à desinformação, qualquer um pode ser radicalizar e há gente mal caráter em todas as idades mas é bem importante entender as peculiaridades geracionais da extrema-direita brasileira.
então, amor. eu sou dessa geração que foi cooptada pela loucura. como escapei? tenho um letramento digital muito acima da média - tanto que a maioria dos meus amigos não é da minha geração. Até ando pensando em fazer um serviço pra eles: acompanhamento em setores digitais da vida. Noções de segurança, checagem e uso de novos serviços. Sobre a questão covid: só consegui fazer meu pai se vacinar com chantagem emocional. E só acredito pq ele mostrou a carteirinha de vacinação.
Minha mãe, infelizmente, faleceu no finalzinho da pandemia, mas foi odiando Bolsonaro. Isso me consola demais.