Premissas e Problemas
Detido em uma patrulha - Iraque, 2004.
A História pegou Fukuyama e o mundo de surpresa em 2016. Não há um lugar seguro para o progresso prometido pela democracia liberal, e o caminho que trilhamos até aqui parece esquecido em meio há tanto ruído. O panorama político de agora é, talvez, o mais perigoso que enfrentamos desde a década de 1960: uma intensa consolidação de governos autocráticos, alguns já rumo à ditaduras consolidadas com o uso da força.
Na década de 1960, o mundo ainda rescendia ao desastre da 2a Guerra Mundial e o grande embate se dava entre o socialismo Soviético e o capitalismo global liderado pelos Estados Unidos. As respostas para os problemas do mundo pareciam pender para um dos eixos: não havia qualquer outra alternativa.
A queda do Muro do Berlim e a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi um momento de mudanças drásticas e alguma esperança. Mergulhamos em um novo ciclo de globalização, em mundo que passava a se pensar cada vez mais como um só - a despeito das muitas contradições que persistam.
E então algo mudou.
Em 2001, os atentados que destruíram o World Trade Center delinearam uma nova geopolítica. Duas guerras depois, estamos longe de tornar o mundo um lugar mais seguro. O chamado "socialismo do século XXI" parece estar em seu último suspiro. A classe política decidiu não prometer esperança ou melhorias utópicas: passaram a abraçar novamente e sem restrições um discurso de terror.
A queda de Bagdá - Iraque, 2003.
A polarização política é desproporcional e parece permear tudo. Esquerda e direita se diluem na malversação e qualquer ideia de consenso uma "terceira via" vai por água abaixo em meio à inúmeras crises: ecológica, de representação, dos refugiados, de guerras intermináveis.
A internet nos tornou mais próximos, mas isso não é necessariamente bom. Reunidos em multidões online somos muito mais suscetíveis à total histeria. Também estamos inseridos em uma série de esforços de propaganda, marketing e manipulação em massa - mas agora achamos estas são fruto de "autênticos usuários" da rede.
Pensar nesse mundo novo exige estar atento a uma série de premissas. Enumero algumas delas a seguir:
Na era da informação nossa atenção é um recurso escasso.
A política não é um sistema em perpétuo equilíbrio.
Nenhum dos nossos direitos está garantido por pedaços de papéis e instituições.
O terrorismo dos radicais islâmicos triunfou: uma vitória de propaganda.
A viabilidade da "nova direita" exige atentados terroristas e jihadismo.
A falta de esperança estimula o cinismo autodestrutivo.
A polarização e a desigualdade são ameaças às democracias Ocidentais.
O ódio é uma linguagem viral, de fácil manipulação e difusão.
Em meio às novas suásticas está abolida a Lei de Godwin.
"Histórias alternativas" podem ser "alternativas à História".
O que está acontecendo não deve ser normalizado.
Não há respostas simples para questões complexas.
O apoio aos autoritários não garante anistia a quem os apóia.
O mal não é exclusivo ao "outro lado".
O que está em crise é a possibilidade de qualquer compromisso.